Vício

Há coisas que são feitas para você, coisas que vem em momentos que não se espera. Ele passava todos os dias pela minha vida, não apenas pelo fato de nossos olhares se encontrarem quando passamos um pelo outro, e sim porque através desses eu sentia que ele pode tocar a minha alma. Ele me toca de um modo como ninguém jamais havia feito, eu posso sentir sua respiração dentro de mim, posso sentir seu cheiro gostoso que me queima por dentro. No fundo eu não desejo saber nada mais sobre aquele ser, que mais parece um anjo de tão belo, no fundo eu não quero saber nada a seu respeito, era confortável pra mim aquele mundo de sensações, uma overdose, a droga mais entorpecente que eu já havia experimentado, acho que no fim das contas é isso mesmo que acontece, isso tudo me deixa louca, entorpecida, e com sede de mais e mais a cada segundo. Gosto da sensação quando ele me olha, a droga se espalha, sobe a cabeça e desce como um choque pelo corpo. E ele sabe exatamente o que faz, o desejo e vontade, o prazer e a dor que ele pode causar em mim. Não, ele não me permite. Ele não me permite nada pelo simples fato de me permitir demais. Não há regras, tudo posso e nada posso. As regras mais justas são cinzas. Tudo que começa aqui, termina aqui. Queima e se desfaz. Mas começa novamente, queima, incendeia e consome. Sinto que ao tocar minha alma ele esconde a sua, minha alma que anseia por seu vício encontra satisfação. No fundo ele usa seu disfarce com todos, seu corpo está encoberto de disfarces mas seus olhos não. E esse é o único motivo que mantém sua identidade ainda desconhecida, sua alma intocada. Mas, como já havia dito, o imperfeito me atrai, o desconhecido me provoca desejo, as vezes penso invejar esse descompromisso com seu eu, talvez por tanto senti-lo deixei de sentir a mim. Acho que preciso ficar sóbria por um tempo, meu corpo está acostumado demais com isso, meu sangue já não é puro há tempos, acho que a sensação, a droga e o entorpecer estão tomando conta do meu coração.

Analu Oliveira